O Urutau e a Mitologia Guarani

O URUTAU

Numa aldeia distante, um casal de jovens decidiu morar juntos. Sabendo que o pai não gostava de seu noivo, a moça resolveu contar-lhe sobre o seu namoro, pois era o cacique da aldeia.

Ele ficou irritado e não consentiu que aquele jovem se tornasse o companheiro de sua filha. Desolada e muito triste, a moça relatou ao noivo os sentimentos de seu pai. Afrontando a oposição paterna, os dois decidiram fugir.


Quando soube da fuga da filha, o pai, irritado, convocou imediatamente um grupo de guerreiros para capturar os dois amantes e, sem piedade, matá-los. Um cacique não pode ser contrariado e, dessa forma, a filha havia cometido um grave erro ao desobedecer ao pai. Essa afronta lhe custaria a vida e serviria de exemplo para toda a comunidade.

Mas aquele jovem era um rezador e, embora com pouca idade, possuía grandes poderes, sendo conhecido como nhanderu Poraí.

Assim, no meio do caminho, o jovem comunicou à sua noiva a visão que estava tendo, onde apareciam os guerreiros que vinham à procura deles, a mando do cacique. E disse à jovem que, quando fossem alcançados, ele daria um pulo, virando uma árvore seca, e ela abriria os braços, voando como um pássaro.

Quando os guerreiros os avistaram, os dois fizeram o combinado. E assim o jovem nhanderu Poraí transformou-se numa árvore seca e sua noiva, num pássaro.

Ao chegar naquele lugar onde estavam, os guerreiros encontraram apenas um galho seco, com um pássaro que cantava: Ko apy jaiko, ta-ta-ta, que em guarani quer dizer: aqui nós viveremos, ta-tá-tá.

Foi assim que ela se transformou no urutau, que é um pássaro que fica sempre numa árvore seca, imóvel, confundindo-se com ela. Por isso os guaranis dizem que o urutau é a moça que se transformou em pássaro, para poder ficar com seu noivo para sempre.




Relato do pajé Ceijú Karaí Mirim, guarani nhandeva (SP) [1] - 1933 – 2014

Quando se perde uma liderança indígena. Se perde uma Biblioteca inteira...


[1] Mito recolhido por Emerson Guarani, na aldeia de Araribá, em 2008.


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